Minha arma secreta contra a economia da atenção

“Como escritor, estou sempre tentando reacender o sentimento de me conectar com as palavras por meio de seus sons, não apenas de seus significados. Para isso, leio poesia todos os dias, e minha leitura assume uma forma particular: no primeiro dia de cada mês, eu escolho um poema e leio esse poema todos os dias daquele mês.

Revisitar o mesmo poema todos os dias é a antítese da economia da atenção; em vez de rolar pela superfície, estou mergulhando bem abaixo dela. Em Janeiro, enquanto caminhava pelo Brooklyn, a frase final de Terrance Hayes (um poeta norte-americano) passou pela minha cabeça: "Você deve olhar sem olhar para fazer o círculo perfeito". Talvez seja apenas desativando o pensamento linear que podemos ver como os elementos díspares deste mundo - incluindo as pessoas - estão conectados.

Quando leio o mesmo poema todos os dias, estou me treinando para "olhar sem olhar". Circulando de volta repetidamente, guiado por padrões de som, deixo meu subconsciente fazer algumas das observações. Em vez de analisar conscientemente o poema, concentro-me em ouvir enquanto as linhas da página liberam sua música e seu significado.

A repetição cultiva um tipo mais profundo de atenção, que vai além da compreensão fácil para a intimidade com o trabalho. É o tipo de concentração multidimensional intuitiva que você precisa para desenhar um círculo perfeito ou escrever um poema (ou, no meu caso, uma história).

Mas você não precisa ser um artista ou escritor para se beneficiar da releitura do mesmo poema. Eu penso que essa prática de concentração também pode nutrir a conexão humana, encorajando a intimidade da atenção. Talvez possamos aprender a ler uns aos outros da mesma forma que lemos poesia, ouvindo atentamente a música que todos fazemos.”

Extraído da coluna “My Secret Weapon Against the Attention Economy”, de Elliott Holt, para a The New York Times Magazine.

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