Elemento surpresa

Porque é quase impossível olhar diretamente para o Grand Canyon e enxergá-lo pelo o que ele realmente é? Isso acontece por que o lugar foi apropriado pelo complexo simbólico que se formou na mente do turista. Ver o desfiladeiro com pré-concepções é, na verdade, ver o complexo simbólico na sua frente. A coisa já não é mais a coisa… é, antes, o que já foi formulado por cartões postais, livros de geografia, folhetos turísticos e fotos no Instagram.

A verdade, é que o cérebro só registra aquilo que não espera ver. “O cérebro espera ver algo com base no que sabe, elaborando uma imagem do que prevê que os olhos devem ver. Essas informações são transmitidas do cérebro aos olhos, por meio de estados intermediários. Os circuitos neurais só enviam sinais para o cérebro quando for revelada uma discrepância entre o que o cérebro espera ver e a imagem que chega aos olhos.” [Helgoland, 2021].

Assim, o elemento surpresa se torna o maior aliado da visão humana. “Quando olhamos ao nosso redor, não estamos verdadeiramente ‘observado’. Em vez disso, estamos sonhando com uma imagem de mundo baseada no que sabemos (incluindo preconceitos e concepções equivocadas)” [Helgoland, 2021]. Todavia, quando somos surpreendidos e o cérebro não tem objeto de comparação, enxergamos muito melhor - pelo o que a coisa realmente é.

O desafio, no entanto, é que planejar ou criar estratégias para surpreender o cérebro são quase impossíveis. Quando passeamos por um país estrangeiro, ao redor de pessoas, culturas e lugares nunca vistos antes, ficar boquiaberto é relativamente mais fácil - mas isso é muito mais difícil em ambientes cotidianos ou em situações (como eventos) já vivenciadas. Por isso, você só pode se colocar em situações em que tenha mais chance de ser surpreendido.

O desafio do elemento surpresa está em enganar nosso próprio cérebro, colocando você ou o público em contato com algo realmente inesperado e/ou diferente. A surpresa não virá daquilo que já é conhecido ou daquilo que já se tem pré-concepções. Faça o exercício se observar algo diferente todos os dias, ficando mais suscetível ao incomum, excêntrico, estranho.

Leia mais na coluna de Austin Kleon.

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