Vivos e ao vivo. Agora.

Durante a pandemia, nossas conexões e experiências foram mediadas majoritariamente por telas. Passamos quase 2 anos mantendo contato com amigos, familiares e estranhos por redes sociais diversas e nos encontrando virtualmente para diferentes fins - seja eventos, reuniões ou aulas. Mas, com a luz do fim do túnel cada vez mais forte, está na hora de voltar a desfrutar o mundo físico, com todos seus toques, emoções e vivências.

Com a volta dos eventos, o anseio para 'viver o momento' vai ser enorme - e que bom! Mas com toda essa euforia, surge uma questão reflexiva importante: ficaremos focados, mesmo que subconscientemente, em tirar fotos e vídeos do momento ou vamos dar um tempo das telas para nos entregarmos 100% à experiência?

Em uma coluna de Oliver Burkeman, autor e colunista do The Guardian, ele diz: "A abordagem ao desafio de ‘viver mais o momento’ começa por perceber que, de fato, você já está sempre vivendo o momento. Se você já está inevitavelmente no momento, há algo profundamente duvidoso em tentar trazer algo a mais para esse estado”. Por vezes, as fotos e vídeos entram como uma tentativa falha de ‘trazer algo a mais’ para o momento, tentado registrar aquilo que é feito primordialmente para ser vivenciado.

Burkeman completa: “O problema, é que o esforço para estar presente no momento, embora pareça o exato oposto da mentalidade instrumentalista e focada no futuro, é na verdade apenas uma versão ligeiramente diferente dela. Você está tão determinado em tentar fazer o melhor uso de seu tempo numa experiência de vida enriquecedora, que obscurece a própria experiência. Você decide ficar completamente presente apenas para descobrir que não consegue, pois está muito ocupado, conscientemente, imaginando se você está presente o suficiente ou não."

Em uma sociedade hiperconectada, devota ao consumo imediato e com uma enorme necessidade de estar presente para não ficar de fora, talvez seja necessária uma reflexão sobre vivenciar unicamente de espírito, sem registros. Viver mais no presente pode ser simplesmente uma questão de finalmente perceber que você nunca teve outra opção a não ser estar aqui e agora. Fotos e vídeos não eternizam momentos, essa função serve unicamente à nossa memória - até porque, o que é filmado mas não é lembrado se torna uma lembrança ‘falsa’, criada a partir de um vídeo e não provinda dos nossos próprios olhos.

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