E se não construíssemos um único prédio novo em 2022?

No bairro de Gowanus, no Brooklyn, uma fábrica de 100 anos foi transformada em um centro de artes cênicas contemporâneo e super moderno. Datado de 1901, o antigo armazém tinha uma estrutura essencialmente industrial, embora desgastada, e uma preciosa madeira de pinheiro de folha longa que foi extinta no boom das construções dos anos 1900. Nessa iniciativa de ressignificação, o bairro ganhou mais um destino cultural em uma antiga estrutura industrial. 

Esse tipo de ‘reutilização adaptativa’ - onde edificações antigas são convertidas em um novo propósito - está em voga há décadas. Em 2021, um dos maiores projetos de ressignificação já promovidos foi no prédio James Farley Post Office, no centro de Manhattan, transformado no Moynihan Train Hall. Ainda naquele ano, em Beloit, Wisconsin, uma usina de energia a carvão de 1908 renasceu como um vibrante campus universitário. Em Houston, uma antiga loja de departamentos da Sears foi transformada em um centro de inovação. Por fim, em St Louis, a antiga sede do Post-Dispatch tornou-se um edifício residencial de lofts.

Atualmente, nos encontramos frente a uma crise climática que acelerou a busca de empreendedores e arquitetos pela ‘reutilização adaptativa’. Edifícios geram quase 40% das emissões globais anuais de CO2, e 11% disso vem dos materiais e da construção. Os edifícios mais sustentáveis ​​são os que já existem. 

E se tomarmos uma decisão coletiva de não construir um único prédio novo em 2022, reutilizando edifícios que já estão de pé? Claro que essa seria uma abordagem radical, mas olhar para o nosso estoque de construção existente pode ajudar com mais do que apenas o clima. 

Em grande escala, a reutilização de edifícios pode ter enormes repercussões ambientais. “O edifício mais verde é aquele que nunca foi construído”, diz Marta Schantz, vice-presidente sênior do Greenprint Center for Building Performance do Urban Land Institute, que apresenta um case de negócios para redução de carbono emissões em edifícios. De acordo com Schantz, apenas 1% dos projetos de construção concluídos a cada ano podem ser categorizados como novas construções. O impacto desse 1%, no entanto, pode ter consequências devastadoras para o meio ambiente. “Globalmente, estamos construindo uma nova cidade de Nova York a cada mês pelos próximos 40 anos”, diz Schantz.

Entretanto, a reutilização adaptativa requer "fundamentos econômicos”, ou seja, com investimentos pesados ​​e fazendo sentido para os negócios. É aqui que as mudanças de zoneamento, os incentivos fiscais, estaduais e federais entram em jogo. 

Os EUA enfrenta uma crise imobiliária há décadas. Enquanto isso, o governo sozinho possui cerca de 45.000 edifícios sub-utilizados em todo o país. Muitos deles são os principais candidatos a se transformarem em estoque habitacional. Ao longo dos anos, muitas moradias foram criadas por meio de projetos de ressignificação semelhantes (só na Filadélfia, quase 2.000 edifícios foram convertidos em apartamentos entre 1950 e 2010).

Não há como parar a construção de novos edifícios em 2022. Mas se tivermos que construir do zero, poderíamos construir para que, em 50 anos, desenvolvedores e empreendedores olhem ao redor e encontrem maneiras criativas de adaptar o que estamos construindo hoje.

Extraído da coluna “What if we didn’t build a single new building in 2022?”, de Elissaveta M. Brandon, para a Fast Company.

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